Essência do Gourmet 2010 (Porto)

Estando de férias neste período e andando pelo Norte do país, não podia perder a oportunidade de espreitar o Essência do Gourmet 2010. No lindíssimo Palácio da Bolsa, com estacionamento público (com preços pornográficos, é certo) mesmo ao lado, lá cheguei tranquilamente ao evento.
E cheguei mesmo a horas da primeira apresentação do dia a cargo do Chefe, perdão, Cozinheiro Vitor Sobral (como o próprio fez questão de vincar). Numa fase em que os cozinheiros em Portugal quase desapareceram e passaram a proliferar os chefes, é curioso ver alguém a assumir-se cozinheiro e cada vez mais virado para a comida de tacho. E foi nesse contexto que o chefe (eu chamo-lhe à mesma) brindou os presentes com o desmanche de um cabrito. Depois do enorme atum, de boa memória no Peixe em Lisboa, Vítor Sobral mostrou agora, com grande mestria como se desmancha um cabrito e à medida que o ía fazendo, ía explicando os tipos de carne que iam surgindo e as suas aplicações culinárias. Uma verdadeira lição de cozinha.
O prato preparado foi um arroz de cabrito com legumes. E o resultado final, que o chefe fez questão de dar a provar, foi excelente. O arroz (carolino) numa textura quase de risoto com uma cozedura irrepreensível, muito bem aromatizado pelos legumes (ervilhas, quiabos, fisalis) e pelo cabrito desfiado, resultou num prato típico português, de grande qualidade, a fazer lembrar a comida da avó. O chefe não contou com a ajuda da plateia, que esteve quase sempre muito envergonhada, mas mesmo assim lá foi criando alguma empatia e deixando os seus conselhos ao longo da apresentação.
De seguida e enquanto o Chefe Alexandre Silva (Bocca) preparava a sua apresentação, fui sentir o pulso à feira e às várias actividades que iam acontecendo em paralelo.
Na foto, o Chefe Augusto Gemelli (Gemelli) durante a sua aula de cozinha.
Na zona de restauração, as degustações estavam a cargo dos restaurantes, Buhle, DOP, Pousada do Freixo, Góshó e Pedro Lemos.
Aqui, a Trilogia de entradas do Chef Rui Paula (DOP). Chamuça de alheira, queijo brie assado com compota de três pimentos e um cogumelo recheado que já não me recordo o que levava.
Como é habitual nestes eventos, também estavam presentes alguns produtores com os seus vinhos em prova. Dos poucos que provei, destacou-se este Herdade do Esporão Verdelho 2009. Um vinho muito fresco, muito harmonioso, com aromas de citrinos e fruta tropical, onde sobressai o maracujá. Um belo branco!
A muito concorrida, varanda do Palácio da Bolsa, com algumas caras conhecidas.

A aula do Chef Paulo Morais (Umai), na altura de meter a mão na massa (no sushi neste caso).
De seguida chegou a apresentação do Chef Alexandre Silva (Bocca), sob o tema, foie gras.
Na companhia do Chef Miguel Palma, preparou um foie gras a dois tempos, inspirado num prato que provou numa memorável refeição no Vila Joya e que consistia num foie gras com duas texturas e sabores distintos.
A esferificar caviar de ginja. Não eu, o chefe.
No final, um prato com imensos elementos e texturas diferentes. Gelatina de maracujá, corn flakes, flores, e mais alguns que já não me lembro (é o que faz não tirar notas), todos em harmonia num resultado muito bonito. Se quiserem saber mais sobre este prato dêem aqui uma olhada.
O outro “tempo”. Terrina de foie gras envolvida em amêndoas laminadas e pistachios, figos, o tal caviar de ginja, flores, bolo de especiarias e uma compota que também já me escapou. Mais um resultado muito bonito.
Foi uma apresentação muito interessante, muito descontraída e bem conseguida, onde foi notório o momento de aproximação do Chef Alexandre Silva à cozinha molecular, ou tecno-emocional, que assume sem complexos, e onde vai mais longe ao afirmar que num mundo onde existe uma evolução constante em todas as áreas, a cozinha não pode ficar parada, tem de evoluir.
Outra degustação. O leitão a baixa temperatura com laranja, do Chef Pedro Lemos (Pedro Lemos). Mas a degustação que mais gostei, incrivelmente esqueci-me da foto, foi um frango a baixa temperatura, com cogumelos e espuma de batata trufada. O frango estava muito macio e suculento, cheio de sabor. Os cogumelos, de várias espécies, muito saborosos, a harmonizarem na perfeição com a espuma de batata trufada. Muito bom.
Tive oportunidade de conversar um pouco com o jovem chef (tal era o movimento na zona dos restaurantes), que se mostrava muito animado com o reconhecimento que finalmente começa a ter, depois de um ano de intenso trabalho. Depois do que provei, fiquei com muita vontade de conhecer o seu restaurante.
E pronto, assim terminou a minha primeira visita ao Essência do Gourmet. No global, gostei muito, correu tudo muito bem, um destaque para as aulas de cozinha, que me pareceram estar a ter uma excelente adesão, o que também ajudava, para além dos chefes mediáticos, o fácil e práctico sistema de inscrições.
Só tenho a apontar dois pequenos reparos. A zona de restauração com duas (duas!?) mesas, o que mesmo com a pouca afluência de público na sexta-feira, era manifestamente pouco. E os preços, que achei no limiar do razoável. Percebo que uma organização desta envergadura comporte custos altíssimos, mas estes preços, definitivamente arredam muita gente do evento.
Muitos parabéns à organização e venha de lá o próximo.
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