10 Anos IWA

É habitual, no inicio do tempo quente, a IWA invadir por um dia o Hotel Ritz para mostrar as novidades dos seus associados à imprensa, bloggers, clientes, amigos e demais agentes do sector, numa jornada que é sempre um momento muito especial no calendário vínico nacional.
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Penso que não exagero se disser que falar da Independent Winegrowers Association (IWA) é falar de excelência. Da excelência de uma associação que soube ao longo dos anos afirmar-se como uma real mais valia para os seus associados, que em conjunto souberam criar sinergias para ultrapassar os exigentes desafios com que se foram deparando. Se tivermos em conta que estamos a referir-nos a cinco importantes produtores do vinho português e que se apresentam com alguns dos mais autênticos vinhos feitos em Portugal, então, parece-me não estarmos perante um exagero.
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A Bairrada de Luís Pato.
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Os Verdes de Pedro Araújo com a Quinta do Ameal.
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O Dão de Luís Lourenço com a Quinta dos Roques e a Quinta das Maias.
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O Douro de Domingos Alves de Sousa.
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E os Verdes e o Dão de João Pedro Araújo com a Casa de Cello (Quinta de San Joanne e Quinta da Vegia, respectivamente).
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É habitual, no inicio do tempo quente, a IWA invadir por um dia o Hotel Ritz para mostrar as novidades dos seus associados à imprensa, bloggers, clientes, amigos e demais agentes do sector, numa jornada que é sempre um momento muito especial no calendário vínico nacional. Este ano, com a celebração do 10º aniversário desta associação, o dia foi ainda mais especial.

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Passemos aos vinhos. Se me pedissem para definir com uma palavra os tintos da Quinta da Vegia eu diria complexidade. Um termo que habitualmente utilizamos para vinhos de segmentos mais altos mas que aqui aparece transversal a toda a gama. Destaque para o Vegia Superior e o Reserva, ambos de 2007,  este último a atravessar um excelente momento. Já nos brancos, para rimar, teria de dizer longevidade. Este ano a novidade da Quinta de San Joanne foi um Alvarinho de 2013, ainda muito novo, austero, contido, mas com uma frescura e presença que augura tudo de bom. Estes são vinhos que só se expressam totalmente com algum tempo de garrafa e só quem tem a paciência, virtude cada vez mais rara, de saber esperar, os vai conseguir apreciar na plenitude.

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Agora viramos ao Douro. Domingos Alves de Sousa é uma figura incontornável da região. Foi dos primeiros nomes a apostar nos vinhos tranquilos de qualidade no Douro e foi o seu trabalho, e de outros pioneiros, que abriu as portas do Douro ao mundo dos vinhos de mesa de qualidade. Com a enologia de Anselmo Mendes fez do seu tinto da Gaivosa um dos maiores emblemas do Douro, e hoje, com a ajuda do seu filho Tiago e com várias propriedades no Douro, possui um leque extraordinário de vinhos. Confirmou-se a categoria do Abandonado 2009, o tinto que nasceu de uma vinha velha abandonada na Quinta da Gaivosa e que apenas surge nos melhores anos. Mostra-se ainda muito jovem, barrica presente, rico e concentrado, mas ao mesmo tempo com uma fineza e elegância só ao alcance dos grandes vinhos. Um tinto para seguir na próxima década.

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Luís Pato continua a dar-nos lições de como estar no mundo dos vinhos. Soube como poucos criar uma marca universal e trazê-la actual ao longo dos anos. Todos os seus rótulos são cuidados e distintos, mostrando que identidade e modernidade não são incompatíveis. O homem que colocou a Baga nas bocas do mundo, e com ela a elevação de uma região, trouxe ao Ritz um conjunto de vinhos à altura do seu portefólio. Realce para os tintos de luxo da Vinha Pan e Barrosa e para o tinto de Fernão Pires, uma curiosidade que ilustra a irreverência que é uma das suas imagens de marca. Mas hoje faço destaque do Baga Sparkling, um espumante de Baga, de estilo acessível, com uma imagem moderna e fresca, um exemplo maior da capacidade de Luís Pato de conseguir associar a sua marca a todo o tipo de consumidores. Notável.
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A Quinta dos Roques identifica-se com o espírito do novo Dão e de facto os seus vinhos ao longo dos anos têm feito essa ponte na perfeição. Os vinhos de Luís Lourenço convivem harmoniosamente com o clássico e o moderno, mas nunca renegando as origens que lhes granjearam uma grande legião de adeptos. Arrisco-me a dizer que algumas colheitas antigas da Quinta dos Roques são mesmo objectos de culto, tal a reverência dos fans. Nesta ocasião estiveram em prova um grande numero de referências, algumas novidades, como o Bical, mas não posso deixar de destacar um vinho que me encantou, o Roques Encruzado 2013. Que belo branco do Dão, ainda jovem é certo, mas com uma frontalidade e estrutura que nos arrebata de imediato. Mineral, vegetal, a fruta é madura, a barrica marca presença no conjunto, mas tudo sofisticado e elegante, sem exageros, um vinho que nos deixa a suspirar pela sua evolução.

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A Quinta do Ameal, de Pedro Araújo, também é reconhecida pelos seus Verdes de grande longevidade. A casta Loureiro, trabalhada em modo biológico, é a bandeira deste produtor e tem proporcionado aos enófilos de todo o mundo resultados surpreendentes. Este ano foi possível voltar a provar o Ameal Clássico e o Ameal Escolha, ambos de 2004, e comprovar que estamos perante vinhos que não deixam ninguém indiferente. Impressionante a frescura que estes brancos ainda apresentam. Numa altura que timidamente se começa a olhar de outra forma para os brancos com idade, temos aqui exemplos maiores do prazer que estes vinhos proporcionam. Curiosa foi a novidade trazida por este produtor do Vale do Lima, um branco de intervenção mínima, uma forma minimalista de abordar o vinho, o romantismo engarrafado. O Solo 2011 é diferente, enigmático, distinto, com a frescura e mineralidade afirmativa que é apanágio desta casa. Um branco que fará as delícias de quem procura lufadas de ar fresco no mundo do vinho. Deixo um aviso à navegação, não procurem aqui um Vinho Verde, é de outra coisa que se trata.

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Este ano a habitual Masterclass deu lugar a uma pequena conferência onde se projectou o futuro da exportação dos vinhos portugueses. Com a mediação do presidente da IWA, Luís Pato, estiveram como oradores José Pena do Amaral, administrador do Banco BPI, Frederico Falcão, presidente do IVV e Luiz Horta, jornalista brasileiro na área dos vinhos. A conclusão é que os resultados têm sido bons e recomendam-se, mas o investimento tem de continuar. Têm a palavra os produtores.
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O final da conferência foi feito com a apresentação do LARBE, o vinho comemorativo do 10º aniversário da IWA. Loureiro, Alvarinho, Rabigato, Bical e Encruzado, cinco castas, uma de cada associado, para 1200 garrafas de um vinho que, apesar de ainda jovem, se mostrou à altura do momento que celebra.

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A mesa estava posta para o jantar de aniversário.
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Tártaro de Salmão com Algas Wakame Marinadas, harmonizado com o novo LARBE. A mineralidade e acidez do vinho assentou como uma luva na frescura do prato. Começo auspicioso.
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Camarão, Espargos Brancos e Puré de Ervilhas e Emulsão de Citrinos. Com a massa filo a dar um elemento guloso ao prato. Menos convincente foi a textura do molho, que quando arrecefeu parecia gordura coalhada.
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A acompanhar esteve o Ameal 2007. Outro vinho em grande forma, com uma evolução de grande nível,  que elevou o conjunto com a sua untuosidade.
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Peixe Galo com Manteiga de Baunilha, Alcachofras Glaceadas, Zest de Calamondin e emulsão de Girolle. Delicioso o contraste do citrino com o molho. Um prato de sabores bem definidos, com uma técnica irrepreensível, onde tudo faz sentido. Muito bom. Pareceu-me que uma pitada de flor de sal só lhe caía bem.
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Para esta altura estava guardado mais um grande momento na refeição. A entrada em cena do vinho que Luís Pato idealizou para homenagear o seu amigo David Lopes Ramos, figura maior da escrita gastronómica portuguesa, falecido em 2011, um mestre, como os que com ele trabalharam lhe gostam de chamar. E que homenagem. Depois de uma jornada em que provámos e bebemos vinhos excepcionais, só um grande branco consegue chegar e ainda marcar a sua presença. Longo, distinto, harmonioso, andou de braço dado com o peixe galo, para um dos momentos mais altos da refeição. Um vinho que não se encontra em venda, “porque não usamos os amigos para vender vinho”.
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Lombo de Novilho Charolês, Crocante de Jarret, condimento de legumes com vinagre de Modena 30 anos. Aqui a flor de sal na carne faz toda a diferença e dá de facto outra dimensão ao prato.
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Com a carne chegaram os tintos, de luxo, como é o Roques Garrafeira.
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Os presentes de boca aberta com a qualidade dos vinhos que iam passando pela mesa.
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Cabrito Confit, Parmentier com Trufa Preta e Cépes. Neste tipo de refeições os pratos de carne são sempre os que menos me entusiasmam mas deste gostei tanto que tive mesmo de o eleger como o melhor da noite. A carne lascava ao toque do garfo, os frutos secos davam um travo delicioso, tudo de sabor profundo e de novo a técnica em grande plano.
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Para elevar ainda mais o prato chegou o Vegia Superior, um tinto que veio fechar com chave de ouro um desfile impressionante de vinhos. Complexidade sem limites para um tinto intenso, cheio, com acidez valente e um fresco travo vegetal a dar-lhe grande carácter.
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A boa disposição foi uma constante. Aqui, Domingos Alves de Sousa brinda à primeira década IWA.
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Frutos Vermelhos Marinados com Pimenta e Manjericão e Sorbet de Lichias.
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Está de parabéns Pascal Meynard e a sua equipa. O Chef Executivo do Hotel Ritz Four Seasons apresentou um menu muito consistente, sempre em crescendo, sem pontos fracos, uma excelente refeição. A base da cozinha francesa serve de ponto de partida para preparações muito precisas, de técnica apurada, cheias de sabor. Certeira a aposta na frescura dos pratos, ora dada pelos citrinos, ora pelo vinagre. Grande nível.
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Nada como um Porto para finalizar a refeição. Sem quase se dar por isso Domingos Alves de Sousa tem construído a sua gama de Vinhos do Porto e este White 10 Anos mostra a solidez dessa aposta. Frutos secos, fino e equilibrado, de boa persistência, um Porto Branco que foi o companheiro ideal para a tertúlia que finalizou a noite.
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José Lourenço, Domingos Alves de Sousa, Luís Lourenço, Pedro Araújo, Luís Pato e João Pedro Araújo, venham os próximos dez! (foto: Ricardo Ramos)
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