Adega Mãe (Torres Vedras, Lisboa)

Voltamos ao vinho aqui no blog, para uma viajem curta até à Ventosa, Torres Vedras, onde fomos conhecer um novo projecto que aos poucos se começa a afirmar. A Adega Mãe, pertence ao Grupo Riberalves, que depois do bacalhau, do imobiliário e do café, abraça agora a aventura do vinho.

São 30 ha de vinha numa propriedade que se distingue no horizonte pelo arrojado edifício que parece sair do terreno como uma gaveta. É esse o núcleo de todo o projecto. Um edifício moderno, de linhas direitas, muito bonito, onde alberga toda a estrutura e que se centra na imponente adega, irrepreensivelmente equipada com a mais moderna tecnologia. Aliás, todo o projecto mostra estar assente em bases bem sólidas, seja na aposta declarada no enoturismo (condições não faltam), com percursos desenhados pelo interior do edifício com paragens estratégicas para observação de vídeos, como, o mais importante, no caminho definido para os vinhos que querem produzir.

Neste último campo, também o investimento é na qualidade. Garantida desde logo pela equipa de enologia onde pontificam Anselmo Mendes e Diogo Lopes, a dupla responsável pelos néctares produzidos na casa. Apesar de já ter reparado nos vinhos Dory nas prateleiras (eles destacam-se) e de já ter ouvido falar no projecto, não conhecia os seus vinhos e não fazia ideia do que ia encontrar. E a surpresa foi muito boa. Não esperava tanto, confesso. Vinhos muito bem feitos, originais, a mostrarem muita frescura, resultado das características do terroir onde estão implantadas as vinhas do projecto. E todos com uma boa relação qualidade-preço (outro sinal da solidez e do realismo deste projecto). Melhores os brancos, que os tintos, para o meu gosto, mas ambos a darem excelentes sinais do que poderá vir a ser uma grande referência da região de Lisboa. Para seguir com atenção.

Antes de terminar, referir que fomos acompanhados nesta visita pelo director geral, Bernardo Alves e, pelo enólogo Diogo Lopes, que nos apresentaram a essência do projecto Adega Mãe, terminando a jornada num reconfortante almoço (de bacalhau, claro), na ampla sala de eventos da adega com as vinhas em fundo.

Os Vinhos

Dory Colheita Branco 2012 – Quando o entrada de gama apresenta este nível, eleva muito a fasquia para o que vem a seguir. Lote de Arinto, Viognier e Fernão Pires, a servir de fio condutor ao perfil dos vinhos da casa. Muito aromático, citrinos, mineral, algum vegetal, todo ele a sugerir frescura. Pura gula.
Preço médio 4€, nota pessoal 15,5+.

Dory Alvarinho 2012 – O meu favorito. Um vinho que não mostra a exuberância dos seus congéneres minhotos, está mais recatado, menos falador, mas todo ele com um carácter que impressiona. Há mais citrinos que fruta tropical, muita mineralidade e até uma leve sugestão química que lhe dá um toque original. Tem corpo e estrutura, mas uma acidez e mineralidade que lhe confere grande elegância. Fico convicto que o vinho vai crescer com o estágio em garrafa. Começa a ser notável a aptidão existente no eixo Mafra-Torres Vedras para a feitura de vinhos brancos, estaremos perante um novo terroir de eleição em Portugal?
Preço médio 7€, nota pessoal 16+.

Dory Viosinho 2012 – Outro belo branco. Depois de provarmos estes vinhos, quando o Diogo Lopes nos diz que ainda estão à procura do potencial deste terroir, nós ficamos a imaginar as coisas boas que ainda poderão surgir dali. Apesar da fruta aparecer aqui com uma expressão aromática mais evidente, o vinho, à semelhança do Alvarinho, expressa a casta de forma subtil, sem grandes espalhafatos, tudo elegante e com muita personalidade. Um vinho com carácter, extremamente equilibrado, com um lado mineral e fresco de grande categoria e um final de bom comprimento. Preço médio 7€, nota pessoal 16+.

Dory Chardonnay 2012 – Confesso não ser grande adepto de vinhos Chardonnay feitos em Portugal, ou é provável que ande a provar os errados, não sei, a verdade é que não me recordo de nenhum que me tenha convencido a 100%. São bem feitinhos e tal, a manteiguinha redondinha, mas depois há sempre aquele peso da casta que acaba por os tornar chatos e sem grande piada. Mas aqui, mais uma vez, temos o lado fresco e mineral do perfil dos vinhos deste produtor a deixar a sua marca e a tornar este Chardonnay bem interessante, sem descaracterizar a casta.
Preço médio 7€, nota pessoal 16.

Dory Viognier 2012 – Para a Viognier foi introduzida uma nuance enológica com a fermentação e o estágio de seis meses a ser feito em barricas de carvalho francês. Novo tratamento Atlântico a uma casta que costuma dar vinhos pesadões entre nós. A barrica está lá, nota-se, mas não é impositiva. Boa expressão aromática, com um lado fresco a contrastar muito bem com o lado mais pesado da fruta. A boca volta a surpreender pela forma como consegue equilibrar, corpo, mineralidade e acidez. Pessoalmente prefiro o lado mais fino e elegante que o Alvarinho e o Viosinho mostraram, mas tenho de admitir que estamos perante um belo branco.
Preço médio 7€, nota pessoal 16+.

Dory Colheita Tinto 2011 – Feito a partir das castas Aragonez, Syrah e Caladoc, com estágio parcial em barricas usadas de carvalho francês. Pelo numero de brancos e tintos em prova, facilmente se depreende que o principal foco deste produtor está nos vinhos brancos, mas isso não quer dizer que haja descura no lado dos tintos, como facilmente se percebe por este entrada de gama. À semelhança do irmão branco, um vinho muito guloso, quase impossível não gostar, com um lado aromático muito expressivo. Fruta preta muito apelativa, leve toque de chocolate a contrastar bem com a acidez. Excelente relação qualidade-preço.
Preço médio 4€, nota pessoal 15,5+.

Dory Reserva Tinto 2010 – Touriga Nacional e Syrah, com estágio em barricas novas de carvalho francês durante 1 ano. O degrau acima dos vinhos da casa. Boa concentração. Apelativo no aroma, com a fruta preta e silvestre de mão dada com o chocolate e com a barrica. Corpo equilibrado por uma boa acidez. Profundo e com final guloso e persistente.
Preço médio 10€, nota pessoal 16+.

Tel: +351 261 950 100
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