Astúrias e Picos da Europa

Começo pela aldeia de Carmamena localizada bem no coração do parque, proximo de Cabrales, fica á beira de um enorme abismo, parece que a aldeia está pendurada por um fio. Ao saír da aldeia percorri a Rota do Rio Cares ladeado por um desfiladeiro impressionante também chamado de “Garganta Divina”, em direcção a Bulnes.
Bulnes é uma aldeia isolada no meio da enorme montanha, onde em pleno século XXI ainda não existem estradas para lá chegar, a única ligação é feita pelo famoso Funicular de Bulnes que percorre um dos maiores maciços do Parque e nos despeja num local edilico.Para além da beleza natural deste local também há a gastronomia, onde existem duas referencias incontornaveis, o Queijo de Cabrales e a Sidra, se bem que também comi um Solomillo de Ternera que era uma maravilha. Foi em Bulnes que tive o primeiro contacto com o queijo de Cabrales, curado em grutas comunitárias muito húmidas onde ganha a sua cor azulada, (faz-nos lembrar o Francês Roquefort) este queijo tem um sabor muito forte, vai muito bem com um copo de vinho, mas atenção, quem não gosta muito de queijo é melhor nem provar, no fundo podemos dizer que é um Queijo Hardcore, pude ver a sua manufacturação em Cueva Cares, numa gruta comunitária transformada em centro de exposições onde se pode assistir á confecção do dito.

Por estes dias o anoitecer é feito de uma névoa que se vai abatendo aos poucos sobre o cenário, numa dessas noites parei num restaurante á beira da estrada e cruzei-me com uma agradavel surpresa, o saudoso Solomillo de Ternera, é uma peça de vitela muito saborosa que é assada em lenha e acompanha com batatas assadas. Nem a derrota do Milan na final da Champions frente ao Liverpool (o incrivel jogo dos 3-3 e penaltys) que assistia enquanto jantava, me conseguiu estragar a noite.

Por toda esta região existem muitas lendas sobre fadas e bruxas que surpreendiam os viajantes penso que por estas paisagens levarem a esse imaginário. Cangas de Onis é o epicentro destas lendas, velha capital do reino das Astúrias entrou para a história quando no século I dc, o mítico visigodo Don Pelayo impediu o avanço dos Árabes na Península Ibérica começando aí a reconquista cristã. Cangas leva-nos de facto para o imaginário dos contos de fadas, seja pela sua ponte romana, pelas suas casas coloridas ou por qualquer loja de souvenirs.
Próximo de Cangas ficam dois dos mais belos momentos da minha viagem, a Basílica de Covadonga e os famosos Lagos, motivo máximo da minha vinda ás Astúrias. A Basílica é um lugar de culto religioso, talvez o mais importante de Espanha a seguir a Compostela, surge-me de repente do meio da vegetação, imponente com a sua pedra em tons de vermelho a dar algum colorido á paisagem que aqui se vai fazendo de verde intenso. Próximo da Basílica existe Santa Cueva, uma gruta que também tem uma lenda (que já não consigo precisar qual, nada que uma pesquisa pelo Google não resolvesse, mas que deixo para descobrirem quando por lá passarem) e também tem um significado religioso muito respeitado por estas bandas, por baixo da Gruta existe uma queda de agua e uma fonte onde se diz que mulher que beba das suas aguas casará no prazo de um ano, esta posso dizer que é falsa.
Mais acima 12 Km os Lagos Ercina e Enol a 1100m de altitude foram o meu destino seguinte, neste lado do Parque estes dois imponentes espelhos de agua monopolizam toda a atenção, pelo caminho dou boleia a dois caminhantes argentinos a viverem em Barcelona, também eles em busca dos Lagos e vou-me desviando de algumas vacas que surgem. Escusado será dizer que a aparição de miradouros impressionantes são uma constante.
O Sol foi uma constante desta viagem, aliado á proximidade das praias obrigou-me a uma ida á Costa, o lugar escolhido foi Llanes, pitoresca Vila piscatória onde se podem encontrar inúmeras praias nos seus arredores, difícil é escolher. Llanes é um balcão para o Mar Cantábrico, onde a felicidade das pessoas esta expressa em cada cara que me cruzo, não é para menos, qualidade de vida não lhes falta, o centro histórico é muito bonito com as suas muralhas, igrejas e praças medievais que me fazem perder no tempo, o Porto pesqueiro onde existe uma interessante escultura dentro de agua é o lugar ideal para se repousar, contemplar o mar e comer um bom Peixe.
O meu tempo estava a acabar, tinha de regressar e voltar á minha realidade mas não sem antes me despedir da Sidra, escolhi uma típica Sidreria numa Vila próxima de Cangas onde a animação estava ao auge com a presença de uns jovens caminhantes que já tinham deixado a Sidra tomar conta dos seus corpos. A Sidra está para as Astúrias como a Poncha está para a Madeira, é uma bebida de maçã fermentada e que se serve de uma forma muito engraçada, entornando a garrafa a uma distancia muito considerável do copo fazendo com que a bebida crie uma espuma e as caraterísticas da bebida não se percam, diz-se por aqui que o segredo para fazer uma boa Sidra é a maneira de servi-la.

Pelo meio dormi no Parador de Fuente Dé que fica num vale onde existe um teleférico que em poucos minutos nos eleva a uma altitude impressionante, todo o vale esta rodeado de enormes montanhas que dão ao local um aspecto indescritìvel e passei pelas Cosmopolitas Xixón (Gijón) e Santander, com as suas elegantes avenidas á beira da praia, cidades com personalidade vincada que apenas conheci de passagem, serão visitas obrigatórias num regresso que cada vez mais se impõe em mim.

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