Festas e Comeres do Povo Português Volume 1

“Em Maçores, no concelho de Moncorvo, distrito de Bragança, a festa do São Martinho, única no género, assenta em três elementos essenciais: gaiteiro, castanhas, e vinho na caldeira…
…A seguir à procissão, realiza-se o magusto comunitário, e o gaiteiro volta a dar a volta à aldeia, agora acompanhado por uma pequena multidão, que começa a “aquecer”.
Com o auxílio de um pau de dois metros, os rapazes transportam uma caldeira na qual é deitado o vinho oferecido pelos lavradores. A insólita procissão percorre as ruas da aldeia e toda a gente tem de beber de bruços vinho da caldeira. Durante o percurso cantam quadras alusivas ao vinho do género destas:

Eu hei-de morrer na adega
O tonel seja o caixão
O vinho seja a mortalha
Morro de copo na mão

Minha sogra morreu ontem
O diabo vá com ela.
Deixou-me as chaves da adega
E o vinho bebeu-o ela.
Segundo o povo de Maçores é esta a verdadeira comemoração do São Martinho.
Noutras zonas do país vamos encontrar mais “procissões de bêbedos”, paródia agressiva aos cortejos religiosos, de que procuram ser uma versão báquica…”
“Nem conjunto de ensaios etnográficos, nem recolha de receitas de cozinha, nem álbum de fotografias, Festas e Comeres do Povo Português acaba por ser um pouco de tudo isso, como de resto era inevitável.”

“Com castanhas e vinho se faz a festa. E quem diz vinho diz jeropiga, aguardente ou água-pé, que vai dar tudo ao mesmo: alegrar os corações neste começo do Ciclo do Outono/Inverno, quando os dias já são mais pequenos e a natureza aquece ao do Verão de S. Martinho…”

“Diga-se o que se disser, o dia da matança do porco (matadelo ou mata-porco, no falar de algumas regiões do Norte) foi sempre de festa, a que andam associados diversos ritos, entre os quais sobressaem os relacionados com as práticas alimentares. Mais ou menos de arromba, a festa ganha estatuto de “grande acontecimento” em algumas regiões, e ainda hoje é um bom pretexto para convívios e comilanças, que juntam à volta da mesa familiares, amigos e vizinhos, alguns vindos de longe para a festa…”

“Tripa enfarinhada e belouras. A cozinheira (minhota, como se vê pelos brincos…) mostra, sorridente, este petisco que é de todo desconhecido no Sul do país…”

“No dia de S. Martinho vai à adega e prova o vinho. O provérbio também se aplica a muitas tabernas ribatejanas, onde a tradição é salvaguardada em todos os seus aspectos. Como exemplo, aponta-se a Taberna do Quinzena, em Santarém. Propriedade de Maria Eugénia Baptista, foi fundada em 1870 por Fernando Baptista. Desde sempre frequentada por gente ligada aos touros, as suas paredes estão decoradas com cartazes alusivos à festa brava…”

Este ainda não tinha, cruzei-me com ele em acaso feliz, no espaço Bertrand, do Forum Cultura, no Almada Forum. Custou-me cinco euros.

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