Gelados Pascoalini (Santarém)

“Dizes Ribatejo e sobes, célere, na memória saudosa, até à acastelada Santarém, percorres ruas estreitas entre igrejas góticas e torres lendárias, para voltares a ver, do pétreo miradoiro das Portas do Sol, os incêndios do poente na planura rasa, quando é Estio, ou o grande mar das cheias hibernais, se o Tejo, lá ao fundo, extravasa, grandioso, aterrador e fecundante”

Maria de Lourdes Modesto

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É indiscutível a ligação da cidade de Santarém à gastronomia. Pelo menos eu não consigo dissociar uma coisa da outra. Por vários motivos, mas acima de tudo pelo Festival Nacional de Gastronomia, que até originou o famoso slogan “Santarém Capital da Gastronomia”. E foram muitas as peregrinações religiosas que fiz a este festival no passado. Hoje temos uma oferta infindável de festivais, mercados, mostras gastronómicas, gourmet ou não, com ou sem food trucks, mas há 15 anos atrás o cenário era bem diferente. O Festival de Santarém, além de uma grande festa popular, conseguia reunir naquele espaço alguma da melhor gastronomia do país. E lembro com saudade a primeira vez que comi Cracas dos Açores (e acompanhei com um Terras de Lava Branco da Ilha do Pico – foi há muito tempo mas lembro-me como se tivesse sido ontem) ou Coelho à Bruxa, este último preparado pelo restaurante O Burgo, da Serra da Lousã. Nestes últimos anos, infelizmente e por motivos diversos, tenho andado arredado do dito mas para aqui o importante é assinalar que foi um marco importante no meu percurso de comilão.

Serve esta longa introdução para dizer que tenho as melhores memórias relacionadas com a cidade de Santarém e foi com agrado que, aquando da apresentação do novo menu degustação do restaurante Taberna Ó Balcão, tive a oportunidade de conhecer um pouco melhor a cidade através de uma visita guiada por Vera Duarte, técnica do turismo de Santarém, que vestida com o traje tradicional de amazona nos guiou por alguns dos lugares mais históricos da cidade.

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O final deste périplo aconteceu no velhinho Mercado Municipal de Santarém, que com os seus painéis de azulejos do século XIX e a cobertura desenhada por Cassiano Branco, continua a ser um ponto de interesse histórico e turístico da cidade. Lá dentro, pelo meio do colorido das frutas e legumes que contrastava com o cinzento da pedra das bancas, esperavam-nos dois produtores da região para nos darem a conhecer os seus produtos.

Primeiro o mel iellow (assim em minúsculas), uma ideia de Maria Teresa Azóia que nasceu a partir de um trabalho para a disciplina de marketing e mais tarde desenvolvido pelo programa que a Escola Agrária de Santarém disponibiliza para empreendedores da região que queiram explorar negócios dentro da área de actuação desta escola. O projecto consiste numa embalagem de mel portátil, de abertura fácil (basta dobrar), que pode ser transportada e servir de alternativa saudável ao açúcar. O mel iellow já anda pelo circuito de feiras e festas e pode ser encontrado, entre outros locais, no Mercado Gourmet do Campo Pequeno, em Lisboa.

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Depois, o projecto que inspirou este texto, os gelados artesanais da Pascoalini. Uma história que começa em 2013, quando Rui e Patrícia Pascoalinho abrem a sua geladaria artesanal (e croissanteria) no centro da cidade de Santarém. Uma loja que desde o início se destacou pela qualidade e criatividade da oferta, seja com o gelado de Bolota Caramelizada, ou no gelado de Cerveja Artesanal Bolina, ou ainda, a piscar o olho aos mais jovens, os gelados de Oreo ou de M&M’s. Aliados a estes existem ainda, obviamente, os sabores clássicos, que se distinguem por uma qualidade acima da média, como por exemplo os de Morango ou Chocolate. Além da loja fixa a Pascoalini tem ainda duas motos com as quais vai percorrer os mercados e festivais de gastronomia do país, dando dessa forma os seus gelados a conhecer a mais pessoas.

Mas a nova estrela da companhia é a gama “Sabores do Ribatejo by Pascoalini” onde se valorizam as parcerias com os produtores locais, ao mesmo tempo que se faz uma homenagem à gastronomia da região e ao melhor que esta tem para oferecer. O Morango das Fazendas de Almeirim, o Melão de Almeirim (e aqui lembro-me da Fragoleto, que também o faz), ou o Figo de Almoster, são alguns dos sabores já disponíveis, enquanto na “incubadora” se afinam mais alguns que se seguirão. Outra aposta desta gama é pegar no sabor tradicional dos doces conventuais típicos da região e passa-los para gelado. O Pampilho, a Celeste, ou a Mousse de Chocolate com Arrepiado, ganham uma nova dimensão com esta nova e (muito) bem sucedida abordagem. O resultados são francamente bons, com os gelados a mostrarem uma textura perfeita, com sabores muito definidos e, uma das características que mais me agradou, muito contidos no açucar, o que acaba por destacar ainda mais o sabor dos próprios produtos. Uma maravilha que vale a pena conhecer.

Pascoalini

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Enquanto aconteciam estas apresentações, por entre gulosas colheradas de gelado, ainda houve tempo para uma conversa com o vereador do turismo de Santarém, Luís Farinha, que nos levantou o véu das medidas que a Câmara está a preparar para valorizar ainda mais este movimento de gente jovem que está, através da gastronomia, a colocar a cidade na ribalta. A dinamização do festival de gastronomia e a remodelação do mercado municipal são duas prioridades fundamentais, por em marcha o mais rapidamente possível.

Uma coisa é certa, parece-me que a Taberna Ó Balcão deu um grande safanão na gastronomia da cidade e que pôs efectivamente as coisas a mexer, ou pelo menos a dar-lhes visibilidade. Pela parte que me toca voltei a viajar com frequência para Santarém por causa da gastronomia e fico contente por passar a haver mais pontos de interesse nestas deslocações. A Pascoalini é definitivamente um.

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