José Maria da Fonseca – Bloggers Day 2013

A jornada começou com uma prova de cinco amostras de cuba de vinhos brancos da colheita de 2013. Verdelho, Verdejo, Sauvignon Blanc, Viosinho e Alvarinho, foram os vinhos incluídos nesta sessão, apresentada e comentada por Domingos Soares Franco. Cinco monocastas saídos da impressionante colecção ampelográfica da José Maria da Fonseca, que apesar do curto tempo de vida, mostraram-se promissores. A acidez foi uma característica transversal a todos os vinhos, onde o Viosinho e o Verdejo foram os meus preferidos.

O Colecção Privada Domingos Soares Franco Espumante Moscatel Roxo Rosé 2012 (14€) serviu de transição em jeito de aperitivo para o almoço que se seguiria.

Já à mesa, com a companhia de um genuíno Azeitão, chega-nos o primeiro vinho do almoço. O Pasmados Branco 2009, é um branco feito com Viosinho, Arinto e Viognier, que chega ao mercado após o estágio de seis meses em barrica, seguido de um considerável período de envelhecimento em garrafa. Um vinho surpreendente, na evolução, na distinção e na aptidão gastronómica. Daquelas referências out of the box que qualquer eno-chato gosta de encontrar. A combinação com o queijo foi extraordinária.
De seguida rumamos ao Alentejo. Mais propriamente a Reguengos, para o José de Sousa Mayor Tinto 2011, o vinho que carrega a responsabilidade de reproduzir o Tinto Velho da Casa Agrícola de José de Sousa Rosado Fernandes, adquirida em 1986 pela José Maria da Fonseca, com o objectivo de cumprir o sonho da família Soares Franco de fazer grandes vinhos no Alentejo. Só a história deste vinho dava um post. Mantém-se o lote de castas originais, Grand Noir, Trincadeira e Aragonez, que foram vinificadas segundo, dentro do possível, as tradições da região, com as massas a fazerem a maceração em talhas de barro.Bebido de seguida, sem foto, foi o topo de gama produzido no Alentejo, J Tinto 2011. Um vinho que assenta na filosofia de produção ancestral do anterior, também com parte da fermentação a ser feita em ânforas de barro. Este com uma concentração e complexidade que impressionam. Foi o meu favorito (enquanto não entrámos noutra galáxia, mas já lá vamos…). Um grande do Alentejo.
De regresso à Península de Setúbal para um vinho de vinhas velhas de Castelão, algo cada vez mais raro na região. Não se poderá chamar um clássico pois os 14 meses de barrica nova conferem-lhe uma dimensão mais actual, mas isso faz com que este Periquita Superyor Tinto 2009 também se mostre com uma estrutura e equilíbrio que impressiona. É um hino à casta e à região, mas apesar de já dar muito prazer, há que saber esperar por ele.
À medida que a refeição ia caminhando para o final, as Tortas de Azeitão tocavam as trompetas a anunciar a entrada no maravilhoso mundo dos moscatéis da José Maria da Fonseca. Primeiro o DSF Moscatel de Setúbal (Armagnac) 1999, guloso, untuoso e persistente, a mostrar todo o potencial de um vinho fortificado, que inexplicavelmente, continua em exposição mediática uns degraus abaixo de outros pares. Para reforçar ainda mais esta ideia, de seguida chegou-nos à mesa um vinho memorável, uma amostra de casco do Moscatel de Setúbal Superior 1975. Complexo e profundo, potente e delicado, com notas de vinagrinho, tabaco e brandy e um final de boca interminável. Mágico. Um moscatel que entra no restrito grupo dos vinhos de sonho.
United Colours of José Maria da Fonseca

Família de Vinhos. Vinhos de Família. É assim que a José Maria da Fonseca se nos apresenta nos dias de hoje.

Agora na 7ª geração, a José Maria da Fonseca, apesar de ser um dos gigantes da produção e comercialização de vinhos de mesa em Portugal, continua a ser uma empresa 100% familiar. E fazem questão de nos convidar para fazer parte dessa família, através da ligação aos vinhos como os próprios dizem “…não nos faz sentido falar apenas em castas, em prémios, em história, já se passaram demasiadas gerações para isso. Faz sentido continuar a fazer isto, para todos, esperando que continuem a ser da nossa família e a fazer parte desta história.”

Quase 200 anos de história é de facto muito tempo, tanto que não me arriscaria a contá-la apenas numa única publicação. Atalhe-se portanto.

Quando em 1857 o Rei Dom Pedro V confere a Ordem da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito às “instalações vinárias do Sr Fonseca” em reconhecimento “pela sua modernidade, asseio e eficiência”, era um anúncio para as gerações vindouras quanto à responsabilidade do legado do seu fundador. Antes disso, no ano de 1850, já José Maria da Fonseca tinha criado uma das mais emblemáticas marcas do sector do vinho, o Periquita, dando origem ao mais antigo vinho de mesa português.

Apenas duas curtas passagens de momentos marcantes na história da José Maria da Fonseca, mas que ilustram bem a importância que esta casa tem para a história do vinho em Portugal e para a região da Península de Setúbal em particular.

Um riquíssimo legado histórico que agora tivemos oportunidade de conhecer um pouco melhor em mais um Bloggers Day, uma iniciativa que demonstra a consideração e estima pela comunidade wine blogger em Portugal, que muito se saúda e nos conforta a alma.

A receber-nos estava Sofia Soares Franco, responsável de comunicação e enoturismo da empresa, que nos deu as boas vindas e nos abriu um pouco o véu do que tinha sido preparado para aquela apresentação. De seguida, Domingos Soares Franco, seu tio, vice presidente e enólogo da JMF, juntou-se ao grupo, para se darem início aos “trabalhos” de conhecer as novidades deste produtor de Azeitão.

O ambiente informal e de boa disposição foi uma constante. Enquanto se provavam as amostras de cuba dos brancos da vindima de 2013, escutou-se com atenção Domingos Soares Franco, enquanto falava das dificuldades com que se tinham deparado nesta vindima, a mais longa da história da JMF (4 meses), ou no potencial dos brancos deste mesmo ano, cujas uvas vindimadas antes da borrasca proporcionaram boas maturações e estão a revelar bons resultados, como tivemos a oportunidade de constatar. E depois questionou-se, trocaram-se opiniões, não tendo ficado pergunta, da mais inocente à mais provocadora, sem resposta.

Coube ao novo espumante da casa, já na companhia de alguns acepipes, fazer a transição para o almoço, onde a conversa e o convívio continuou já com a presença de alguns pesos pesados da casa. Postos à prova com o inevitável queijo de azeitão e depois com o bacalhau com broa, saíram-se bem, não estivéssemos perante alguns dos melhores vinhos que se produzem em Portugal. Marcante foi o final de refeição, com as tortas de Azeitão, outro ícone da região, a estenderem a passadeira vermelha para a entrada de suas altezas, os Moscateis. Desta vez luxuosamente ladeados por uma aguardente velha – novidade fresquinha – de nome Excelsior, feita a partir de uvas moscatel e que apenas foram cheias 12 (doze!!) garrafas. Cada uma será comercializada ao preço de 485€, exclusivamente à porta da adega.

Com tantos motivos de interesse era natural que, entre muitas histórias e boa disposição, a visita tenha terminado à mesa. Uma apresentação que mais pareceu, tal a descontracção e informalidade, uma visita a casa de amigos. Para conviver e provar vinhos. De família.

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