Mafarrico Tinto 2013

 

Álvaro Martinho Lopes é das pessoas mais apaixonadas pelo Douro que conheço. Ou pelo menos é das que melhor expressa essa paixão. Ouvi-lo falar do Douro a partir dos socalcos da “sua” Quinta das Carvalhas é um prazer indescritível. Álvaro, sem se aperceber, vende o Douro como ninguém. A paixão com que fala das suas raízes por aquelas terras e da ligação que desde cedo criou com aquele meio, transporta-nos para o lado mais autêntico e humano do Douro. Uma terra abençoada na sua beleza, património natural imaculado, mas que tem muito mais para contar que os cenários cénicos que nos impressionam nas capas das revistas por esse mundo fora.

Mafarrico Tinto 2013

E é essa autenticidade e ligação à terra que Álvaro tão bem nos transmite. Basta olhar para o trabalho de precisão que tem levado a cabo na Quinta das Carvalhas, onde a preocupação pela sustentabilidade e a sua visão muito própria sobre a vinha, tem feito desta um autentico jardim encantado. Mesmo quem não se interessa especialmente por vinho e pela viticultura, não fica indiferente à paixão e à forma como comunica as histórias de cada pedaço daquele chão.  Conhecendo esta faceta do homem é mais fácil perceber o que encontramos dentro de uma garrafa de vinho produzido por si. E de facto, enquanto me deliciava com este Mafarrico (que acompanhou magistralmente umas favas com chouriço), vinha-me à memória a sabedoria e as histórias do Álvaro.

Mafarrico - Álvaro Martinho Lopes

Um vinho de autor, no âmbito do seu projecto pessoal à margem do trabalho que desenvolve na Real Companhia Velha, nascido a partir de uma vinha muito velha, com várias castas tradicionais misturadas, localizada na freguesia de Cumieira, Baixo Corgo. A enologia é de Jorge Moreira.

Cheira e sabe a Douro. Perfumado, seco, autêntico. Com a fruta vermelha, viva e apelativa, bem envolvida num vegetal seco, a fazer lembrar a secura de um dia tórrido nos socalcos do Douro. Está lá o sol a bater no xisto e aquela fragrância de plantas secas, tão característico do Douro. Também há sugestões de pedra de lagar (mesmo sem saber se foi vinificado num) e um fino traço floral. A boca é de uma leveza digna de nota, assim como os taninos finos e secos que moldam a estrutura deste vinho. Rude e genuíno, alegre e irreverente, qual miúdo traquinas, mas muito equilibrado e saboroso. Gostei francamente. Ainda para mais porque no Douro actual, por cerca de 8€, não há muito carácter engarrafado como este. E só por isso leva mais meio ponto (8€ / 16,5).

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