Pontos de Vista

Não resisti a fazer copy/paste deste post que o utilizador Nuno Leitão escreveu no Fórum Nova Crítica. É de facto uma fantástica (e pelo que conheço, certeira) apreciação sobre a nova restauração da Grande Lisboa. De destacar o facto de serem opiniões fundamentadas em 2 ou mais visitas. Deixo a minha vénia ao Nuno Leitão e ao Fórum Nova Crítica, http://www.novacritica-vinho.com/forum/index.php

“Para não deixar dúvidas sobre algumas das afirmações sobre o sector, deixo aqui um conjunto de apreciações sobre os restaurantes que serviram de base a esta análise. Restaurantes considerados criativos (autor, contemporâneo, moderno, fusão, etc.), visitados pelo menos duas vezes nos últimos quinze meses, almoços ou jantares. Só Lisboa e arredores.
Além de algumas considerações sobre o restaurante foi colocado o preço por refeição sem vinhos (menu degustação ou equivalente, couvert, aguas e café), bem como o meu (muito subjectivo) índice de satisfação por € gasto, que mais não é que uma relação qualidade preço ponderada pela satisfação pessoal que vou tirando de cada refeição. A,B,C,D,E do melhor para o pior.

Alma
Restaurante na moda e o que mais vive da imagem mediática do chefe. Pouca flexibilidade para quem anunciou mudanças de menu mensais e ao fim de três meses ainda mantinha a mesma carta. Esta rigidez (na mudança de pratos) era desnecessária e não gera nada de positivo para a refeição. É uma cozinha que varia pouco. Mesmo com novas cartas o resultado final é sempre parecido. Não corre grandes riscos. Manteve os preços mas baixou o produto. 45€ (C,D)

Bica do Sapato
Os anos passam e o sucesso continua. É sempre uma boa opção, embora já tenha ocupado um lugar de maior relevo na restauração de Lisboa. Não se vai pela cozinha. Nunca percebi se tinha alguma ambição em termos gastronómicos. 50€ (D)

Bocca
Restaurante trendy, densamente povoado ao fim de semana. Espaço moderno, agradável. Algumas boas experiências, intercaladas com outras menos conseguidas. Bom serviço. Sempre achei os preços no limite superior do segmento. 63€ (C,D)

Casa da Comida
Interessante convivência entre o tradicional e o moderno. Espaço clássico mas muito agradável. Tem um dos chefes (apesar de ser só consultor) que melhor trata peixe e moluscos. Alguns pratos muito interessantes e criativos. Necessita de modernizar o serviço. Muita expectativa em relação à evolução da carta. Preços correctos.
52€ (B,C)

Castro Elias
Não o considero como um restaurante criativo, mas é um dos projectos de tascas e petiscos promovidos por um dos principais chefes portugueses. Não traz nada de novo, nem contribui para o prestígio da gastronomia ou do chefe. Espero que o novo projecto no Chiado seja diferente. Mau serviço. Barato mas acaba por ser caro. 22€ (E)

100 Maneiras (Lx)
Ambiente e serviço muito simpático. Menu único, interessante, mas não é cozinha de mercado, varia pouco. Sucesso garantido nas primeiras visitas, depois cansa. Se alterasse mais os produtos, os pratos ou o alinhamento podia ter mais repetições. Épocas de grande criatividade, seguidas de períodos longos sem qualquer alteração. Cadeiras a melhorar, sala sem grandes atractivos. Os preços actuais são correctos (até a Julho eram escandalosamente baixos). 42€ (B)

Club
Já aqui expressei diversas vezes a minha opinião sobre este restaurante e sobre o seu chefe. Volto a repetir o que alguém resumiu como conjugar tão bem tradição e modernidade, num estilo irreverente, provocador mas que consegue em cada prato manter a respectiva identidade. Degustei, até Agosto, algumas das melhores refeições do ano com uma personalização como em nenhum outro restaurante. Diversas visitas com a mesma carta, menus sem qualquer repetição de pratos, a não ser por solicitação nossa. Apesar de ser em Vila Franca e de ter um serviço irregular conseguiu o lugar de maior destaque em 2009. 40€ (A)

Eleven
Um espaço de que gosto, para um restaurante que faz falta em Lisboa. Óptima vista, serviço muito profissional, boa comida. Nunca me deslumbrou, mas também nunca me decepcionou. Corresponde às expectativas, apesar de ter preços caros. Pena que não transmita mais ambição, tinha condições para ir muito mais longe. 80€ (D)

Feitoria
Sendo num hotel não o considero um restaurante de hotel. Dos restaurantes abertos este ano é o que tem as melhores instalações (ao nível do Eleven e do Panorama). Muito bom serviço. Cozinha muito consistente, com diversas visitas muito agradáveis. Preços muito correctos (penso que baixaram). Justifica mais visitas. Imo é um sério candidato a uma estrela Michelin. 50€ (B)

G Spot
Cozinha variada muito criativa, a verdadeira cozinha de mercado. Mudança completa de menu todas as semanas. Apesar das más instalações, a simpatia do serviço e a qualidade dos pratos compensam e justificam diversas visitas. O menu de almoço é imbatível. Bons vinhos a bons preços. 30€ (A,B)

Olivier Av.
O grande sucesso empresarial da restauração em 2009, sala muito bonita, bom serviço. Moda, moda e mais moda. Um restaurante para se ver e ser visto. A criatividade é mentira e a cozinha é quase industrial (5ª gama). 48€ (D,E)

Panorama
Cozinha muito criativa, cada vez com mais base portuguesa. Sala muito agradável, óptima vista. É dos poucos restaurantes em que os preços ao jantar são mais atractivos do que ao almoço. Tem uma atitude proactiva com o cliente. Com estabilidade tem potencial para justificar uma estrela. 60€ (C)

QB
Um dos restaurantes orientais em que se pode ir com quem não gosta desse tipo de cozinha. Um caso interessante de oferta diferenciada ao longo da semana, com grande adesão do público. Espero que a saída do chefe não corresponda a uma diminuição da qualidade. 30€ (A,B)

Suite
Não sei se é considerado um restaurante. O conceito levanta muitas dúvidas, com pouca adesão. Falta ambiente. Boa comida com alguma criatividade, serviço mais ou menos. Cultiva algum distanciamento. 29€ (D)

Tasca da Esquina
Repito o mesmo comentário do Castro Elias com mais um pormenor. A gestão dos horários e das reservas leva a que os clientes sejam tratados como mercadoria e proporciona comentários como “posso trazer a conta” ou “são dez horas, preciso da mesa” ou “posso tirar os copos” quando ainda havia vinho. Saudosos tempos do Belavista. Não acredito que os clientes antigos deste chefe se identifiquem com este espaço. Como sucesso empresarial só deve ser ultrapassado pelo Olivier. 28€ (E)

Tavares
Já escrevi muito sobre este restaurante. Passou a ser um local de culto com visitas obrigatórias para acompanhar as mudanças da carta. É o melhor exemplo que é possível fazer uma cozinha muito moderna com as nossas bases. É o restaurante que mais tem evoluído e imho o que demonstra mais trabalho e mais ambição. Ganhou uma estrela nas apreciações até ao Julho. Continua a evoluir e é um sério candidato a uma segunda estrela. As últimas visitas corresponderam a grandes refeições. Do melhor que há em Portugal. 85€ (A)

Terraço Tivoli
As várias refeições foram sempre abaixo das expectativas. É um restaurante que faz falta, que tinha um público fiel. Um caso em que se perdeu um tradicional clássico e não se ganhou um criativo. 75€ (E)

Valle-Flor
Uma sala interessante, dentro do registo clássico. Boa cozinha, criativa mas um pouco “forte”. É um dos casos em que penso que a melhor solução é a combinação de pratos da carta e não a opção pelo menu. O serviço não está ao nível da cozinha. É um eterno candidato a uma estrela, mas já desempenhou um lugar de maior destaque dentro da restauração em Lisboa. Não acompanhou a evolução de algumas das alternativas. 80€ (C,D)

Vin Rouge
Algumas das limitações associadas ao antigo espaço ainda não foram ultrapassadas nas actuais instalações. Necessita alguma melhoria no serviço e em alguns pormenores laterais à refeição. A cozinha é boa, segura, sem grandes rasgos e não corre grandes riscos. O menu podia variar mais e teriam muito mais repetições. Devia ser mais proactivo Quando abriu era um restaurante “barato”, manteve os preços e hoje tem alternativas com preços mais baixos. 45€ (B)

2780 Taberna
Cozinha variada muito criativa. Aqui está um restaurante que tem um site actualizado, onde é possível consultar o menu, que muda religiosamente todos os quinze dias (inicialmente mudava desnecessariamente todas as semanas). Penso que é um restaurante com muitos clientes habituais e com muitas repetições. Instalações pouco confortáveis. 30€ (B,C)

Vírgula
Há um ano considerava este restaurante como o segundo candidato à obtenção de uma estrela (depois do Tavares). Fechou. 48€ (A)

Os seguintes restaurantes deviam figurar nesta lista mas por vários motivos a segunda visita não aconteceu.

Arola,
Belvedere,
Confraria,
Flores,
Fortaleza,
Gemelli,
Guarda Real,
Na Ordem com,
Spot,
Varanda.

As minhas desculpas pelo monólogo.

Cumprimentos
_________________
N Leitão”

Pegando na deixa, aproveito para deixar as minhas humildes notas aos restaurantes onde já estive.

Alma, totalmente de acordo, (C/D)

Suite, concordo com a apreciação do Nuno Leitão, mas gostei bastante da comida, (C/D)

Tavares, sem comentários (A)

2780 Taberna, muita criatividade sem dúvida, mas alguns pratos nem sempre bem conseguidos, (C)

Arola, gostei muito, (B/C)

Gemelli, tinha uma expectativa muito alta e talvez por isso… (C)

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1 Comment

  1. says: .

    Já visitei vários desses restaurantes mas sem me alongar muito, senão faço aqui um testamento, tenho só algo a dizer do restaurante Bocca. Já lá fui algumas vezes mas decepcionou-me quando um dia resolvi ir lá ver como descalçavam a bota do Lisboa Restaurant Week (o menu de 20€). O prato principal era um risotto de moelas. Tudo bem, interessante até certo ponto… mas… moelas são miúdos de frango(esperava mais!) e o risotto era muito pesado. Aliás, todo o menu era fortíssimo. Lembro-me que a sobremesa era bolo de azeite. Algo que não se assemelhava em nada ao que lá comi das outras vezes. Será que eles acham que o cliente do Lisboa Restaurant Week é algum enfarta-brutos que para comer em quantidades normais e sair de lá satisfeito tem que levar com comida pesada? Fiquei um bocado chateada com eles e ainda não voltei lá. Tb acho o preço um bocado carote. Acho que está mesmo no limite para aquele restaurante. cumprimentos.

    Carla D.

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