Prova de Vinhos e Masterclass Independent Winegrowers’ Association (Lisboa)

Chamar-lhes-ia um Dream Team. Quais Globetrotters, que correm o mundo a encantar-nos com as suas criações. Chamam-se Independent Winegrowers’ Association (IWA) e juntaram-se há nove anos com o objectivo de unir esforços na promoção e divulgação das suas marcas próprias. A união faz a força e a verdade é que estamos perante cinco magníficos, que têm levado a identidade do vinho português aos quatro cantos do mundo. Desta vez, como vem sendo hábito nos últimos anos, trouxeram ao Hotel Ritz a sua já famosa Masterclass.
Antes disso, abriu-se a Sala Fernando Pessoa para uma sessão de prova na presença dos produtores, ocasião de ouro para provar novas e velhas colheitas e trocar impressões sobre as mesmas. Aqui, Domingos Alves de Sousa e o seu filho Tiago, os representantes IWA do Douro, não deixaram os seus créditos por mãos alheias e trouxeram a Lisboa uma bateria de luxo. Muitos e bons tintos, de 2003 a 2009, houve de tudo. Impressionaram o Alves de Sousa Reserva Pessoal 2005, o Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo 2009 e o Memórias Alves de Sousa (o vinho comemorativo do 20º aniversário da sua actividade, que contém vinhos de seis colheitas e de uvas provenientes das diferentes quintas do produtor), mas o principal destaque vai mesmo para o Abandonado 2009, um tinto de luxo, de vinhas com cerca de 80 anos, um portento ainda jovem.
Depois, Luís Pato. Palavras para quê? Apesar de ser um consagrado do vinho português, o inconformismo e inovação continuam a ser palavras chave no seu trabalho e os seus vinhos são prova disso. Para esta prova, entre espumantes, brancos e tintos, destacou-se o tinto da mítica Vinha Barrosa, na Bairrada, o Vinha Barrosa Tinto 2010.
No reino do Loureiro. Pedro Araújo vem de Ponte de Lima, da região dos Vinhos Verdes e trouxe-nos os seus brancos da Quinta do Ameal. Numa região onde a casta Alvarinho é cada vez mais aclamada, este produtor decidiu, em boa hora, apostar na casta Loureiro para produzir os seus brancos de uma frescura e longevidade que impressionam. Tudo em modo de agricultura biológica. Curiosamente, numa região onde os brancos de mais idade ainda não são levados muito a sério (será que em Portugal são?), a Quinta do Ameal destaca-se com os seus vinhos de respeitosa idade, como foi o caso do Ameal Loureiro 2004 e depois, mais tarde, o 2003. Mas no que respeita aos 2003, já lá vamos…
Agora o Dão. Luís Lourenço é o responsável pela Quinta dos Roques (e Quinta das Maias), uma centenária propriedade próxima de Mangualde. Ao longo dos anos foi-se afirmando como um dos principais produtores do Dão, com uma consistência assinalável, estes são vinhos que conjugam de forma perfeita o lado clássico com a modernidade dos vinhos da região. Destaque para o Quinta dos Roques Garrafeira 2008, um vinho produzido apenas em anos de excepção, ainda com muitos anos pela frente, mas já um caso muito sério.
Para perfazer o penta, a Casa de Cello. João Pedro Araújo é o homem à frente deste projecto de cariz familiar, que já se prolonga há quatro gerações. Da Quinta da Vegia, no Dão (Penalva do Castelo), vêm os tintos, enquanto que os brancos chegam da sua quinta nos Verdes, a Quinta de San Joanne (Amarante). Dos cinco produtores que compõe este colectivo, a Casa de Cello será aquele que conheço melhor e que sigo os seus vinhos com mais atenção, em especial os brancos. Com um potencial de envelhecimento comprovado, estes são vinhos apaixonantes para um adepto confesso de brancos, como é o meu caso. Destaque-se o Quinta de San Joanne Superior 2009, um exemplo maior do que são os vinhos deste produtor.
A tão esperada Masterclass. Desta vez focada no tórrido ano de 2003 (uma provocação?). Cinco vinhos, um por cada produtor, para atestar, dez anos após, como se encontram os vinhos de um dos anos mais quentes das últimas décadas. Bem se sabe que o calor extremo não é amigo do vinho, menos acidez, mais açúcar, mais álcool, reunidas portanto, as condições para estarmos perante vinhos que já teriam nascido tortos. Puro engano. Na verdade, estivemos mesmo, perante alguns dos melhores vinhos da noite. Passemos aos ditos.
Logo a abrir, para deixar bem claro ao que vinham, o Ameal Loureiro 2003. Ao nível do 2004 que tínhamos provado há momentos atrás, ligeiramente mais marcado pela evolução, mas com uma elegância e frescura impressionante. Note-se que falamos de um vinho de pouco mais de 6 euros.
A passagem de modelos seguiu-se com o Sanjoanne Escolha 2003, um vinho que lhe fizeram o funeral cedo demais. Fruta muito madura, é certo, alguma em calda até, mas com uma evolução cheia de carácter. Fresco e fino, a dar imenso prazer aos maluquinhos dos brancos velhos.
Da Bairrada, o Vinha Formal Branco 2003, com uma performance uns furos acima da última prova há uns meses atrás. Fruta branca, em calda, com mais corpo e peso que os seus antecessores de Masterclass, toque oxidado que lhe confere muita classe.
Entrando nos Tintos. O Quinta da Gaivosa 2003, mostrou-se numa tal forma que foi mesmo dos vinhos preferidos do dia. Tudo muito limpo, a mostrar pouca evolução, grande complexidade, finesse e comprimento. Vinho para muitos anos.
Para terminar o menu degustação (se existisse um vínico, o ideal não andaria longe disto), o Quinta dos Roques Garrafeira 2003. Um grande exemplo da nova vaga de tintos do Dão, aliando tradição e sofisticação. Lado vegetal bem presente, muito fresco, grande complexidade, redondo, elegante, fresco e persistente. A comprovar que apesar de quente, 2003 foi um ano de grandes vinhos.
Depois de tantos e tão bons vinhos, de tantas e tão boas sensações, havia que confortar o estômago. A equipa de Pascal Meynard, Chefe francês à frente da cozinha do Varanda do Ritz, preparou um menu de 5 pratos para harmonizar com os vinhos IWA.
Tártaro de Robalo e Espuma de Citrinos. Um entretém de boca fresco, que deu-se bem com a acidez cítrica do Ameal Loureiro 2012, outro vinho que impressionou na Sala Fernando Pessoa, horas antes. Um bom tiro de partida.
O prato da noite. Risotto Vialone Nano com Camarão e Crocante de Tomate e Pesto. Ponto, textura e sabor, tudo a abraçar com amor o Quinta das Maias Verdelho 2012.
Outro ponto alto, a Garoupa com Ervas Finas e Pistou com Basílico. Oportunidade para voltar a provar, agora com comida, o excelente Sanjoanne Superior 2009. E que bem que ele se portou.
Lombo de Novilho Charolês, Foie Gras e Pinhões. Estava bom, mas acabou por ser o elo mais fraco do menu. Bem alto brilhou o Vinha Barrosa Monopolio Tinto 2009, um dos meus preferidos da noite. Uns furos acima do Barrosa 2010, mostrou-se complexo, terroso, muito elegante e persistente, grande tinto.
Para terminar, o Bolo de Chocolate com Cereja e Gelado de Mascarpone, estava uma gulosa delícia…
…adornada pelo Alves de Sousa Porto Vintage 2011. A excelência dos Vintage de 2011 a fechar o pano de um dia de celebração, num evento exemplarmente organizado. Long life…
Independent Winegrowers’ Association. João Pedro Araújo (Casa de Cello), Domingos Alves de Sousa (Alves de Sousa), Luís Pato (Luís Pato), Luís Lourenço (Quinta dos Roques) e Pedro Araújo (Quinta do Ameal). Keep on rockin guys… Quem gosta de vinho agradece.
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