Quinta das Bágeiras (Sangalhos, Bairrada)

Tenho alguma dificuldade em ser imparcial quando falo da Quinta das Bágeiras. São vinhos que gosto tanto que às vezes o coração sobrepõe-se à razão. Vou por isso tentar ser contido nesta curta prosa que se segue. Fica o aviso à navegação.

Mário Sérgio Nuno, proprietário e responsável pela Quinta das Bágeiras.

Mário Sérgio Nuno e Rui Moura Alves, produtor e enólogo, uma dupla de sucesso intocável.

Autenticidade e tradição…

Vinhos clássicos , distintos, com um potencial de envelhecimento impressionante. Bairradas à moda antiga, ou clássicos se preferirem. Nunca o termo vinho de autor fez tanto sentido. Quinta das Bágeiras Branco 2012 (4€), com Maria Gomes, Bical e uns pózinhos de Cerceal, para um vinho mais reservado do que é habitual nos entrada de gama, nem simples, nem óbvio, antes um perfeito cartão de boas vindas ao universo Bágeiras.

Quinta das Bágeiras Espumante Super Reserva Branco 2010 (9€). Todos os espumantes deste produtor têm um fio condutor, são Brutos Naturais, sem qualquer adição de açucar, bem secos portanto. Este Super Reserva mostra-se nessa linha, contido, fresco e persistente. Claramente a apontar à mesa.

Quinta das Bágeiras Garrafeira Tinto 2003. A excelência dos grandes Bágeiras chegam-nos com alguns anos em cima, é a partir daqui que o conjunto começa a expressar na plenitude as qualidades das vinhas muito velhas de Baga. Terroso, intenso e arrebatador, este 2003 atravessa uma fase que impressiona e que não se vislumbra o fim. Um vinho que nos deixa a respirar Bairrada, enorme em qualquer parte do mundo.

O Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2011 (14€), Maria Gomes e Bical, de vinhas velhas, ainda não expressa na totalidade todo o potencial dos garrafeiras brancos da casa. É dar-lhe tempo. Ainda assim mostra-se muito elegante e equilibrado, com o corpo e a estrutura de mãos dadas com uma excelente acidez.

Tenho alguma dificuldade em ser imparcial quando falo da Quinta das Bágeiras. São vinhos que gosto tanto que às vezes o coração sobrepõe-se à razão. Vou por isso tentar ser contido nesta curta prosa que se segue. Fica o aviso à navegação.

Lembro-me, numa fase inicial deste meu percurso de enófilo, num Encontro com o Vinho, na Junqueira, a convite de um amigo, que me puxou pelo braço, ter ido provar pela primeira vez os vinhos das Bágeiras. Lembro-me de ter achado os vinhos extremamente ácidos, que me levou de imediato a  dizer que precisavam de tempo. E provavelmente precisavam, mas não no sentido a que eu me referia, o meu gosto na altura é que não estava preparado para o que acabara de provar. Enquanto isto, o meu amigo, já batido na poda, deixava escapar entre dentes, “que grande Bairrada”, deliciado com o que tinha à frente.

Apesar de não ter sido amor à primeira vista, foram vinhos a que não fiquei indiferente e depois disso sempre que tinha oportunidade fazia questão de lhes voltar. A rendição aconteceu quando o meu gosto começou a clamar mais por brancos que por tintos, foi aí, ao descobrir a excelência dos brancos deste produtor, que percebi de facto o brilho nos olhos do meu amigo naquela tarde. Os tintos e até os espumantes (e já agora a aguardente e o vinagre…) seguem pela mesma bitola, vinhos com uma autenticidade e distinção que é impossível ficar indiferente.

A história começou quando Mário Sérgio Nuno decidiu, com a aprovação de seu pai, Abel Dais Nuno, começar a engarrafar os vinhos que até então produziam para vender às grandes Caves da Bairrada. A partir desse momento começou a ser construída toda a aura à volta deste pequeno produtor bairradino. Estamos perante um dos maiores defensores (se não o maior) das tradições da Bairrada, fiel adepto das castas nacionais e dos métodos de produção artesanais. Enquanto a Bairrada se começava a virar para perfis mais modernos e comerciais, Mário Sérgio lançava os seus Brancos Garrafeira, marcados pela mineralidade, mostrando que não se iria desviar um milímetro do perfil genuíno dos seus vinhos. Só trabalha com meia dizia de castas (e não sei se chega a tantas) e até há pouco tempo apenas possuía uma marca de vinho, a que mais tarde se juntou o Pai Abel, vinho com que Mário Sérgio fez questão de homenagear o seu pai.

Foi com esta realidade, muito distante dos focos mediáticos que proporcionam as grandes adegas e as grandes campanhas de marketing, que o grupo que visitou a Quinta das Bágeiras aquando do Encontro com o Vinho e Sabores da Bairrada teve o privilégio de conviver. Não têm presença nas redes sociais, nem um site propriamente dito, contrariando todas as regras da sociedade em que vivemos, mas também não precisam, afinal os vinhos falam (e vendem-se) por si.

Para mim foi uma honra enorme poder estar num lugar onde se produzem, sem margem para dúvidas, alguns dos melhores vinhos nacionais.

Quinta das Bágeiras
Fogueira, Sangalhos
Tel: 234 742 102
Visitas: Ligar com antecedência.

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4 Comments

    1. says: Jorge Nunes

      Caro Arnaldo,
      Socorrendo-me de um amigo algarvio, na Garrafeira About Wine em Faro, ou nos Supermercados Apolónia.
      Cumprimentos,
      Jorge

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