Vinhos da Semana VI

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Uma discussão recente num dos grupos sobre vinho no facebook, onde se abordava os riscos de guardar vinhos em apartamentos fez-me recuperar este Tondonia Reserva 2001 que tinha bebido há dias a acompanhar um tapeo caseiro.

A tradição na Rioja manda que um vinho Reserva (que tem de ter no mínimo um ano de estágio em madeira e dois em garrafa antes de sair para o mercado) apenas seja lançado para o mercado quando estiver pronto a beber. Como bem sabemos a tradição já não é o que era e este romantismo não se compadece com a pressão económica que os produtores enfrentam nos dias de hoje, apesar de ainda existirem alguns resistentes que fazem questão de o fazer dessa forma.

Em Portugal estamos habituados a ver reservas tintos nas prateleiras poucos meses depois da colheita e perante este cenário cabe ao consumidor assumir a responsabilidade (e o risco) da sua guarda se o pretender beber um dia na sua potencial melhor fase de consumo. No seu apartamento sem condições de guarda (onde presumo que a esmagadora maioria habite), lá irá tentar da melhor forma, alguns com a ajuda de uma cave refrigerada, guardar o seu reserva para se deleitar uns anos mais tarde. Uma alternativa poderá ser adquirir o mesmo vinho anos mais tarde numa garrafeira ou restaurante que decidiu investir na sua guarda, mas quase sempre por um preço mais elevado. Evidentemente que esta questão não se coloca à grande maioria dos consumidores, mas cada vez há mais (por experiências próximas) a criarem a sua pequena garrafeira.

O que importa reter, e essa foi a principal razão porque voltei a falar deste vinho, é que nos dias que correm é um luxo para os consumidores poderem chegar a um vinho desta grandeza no perfeito momento do seu consumo, sem necessitarem de investir o seu tempo e dinheiro. Um luxo que custa 20€ (cruzando a fronteira), o que não deixa de ser um valor que dá que pensar.

Quanto à qualidade do vinho não é necessário acrescentar mais, o vinho continua em plena forma 13 anos após a colheita e a nota de prova que dei sobre ele em Março mantém-se actualizada.

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Felizmente que em Portugal também ainda vamos tendo alguns exemplos que nos deixam sorrisos nos lábios, de produtores que contra ventos e marés, continuam a ser rigorosos na interpretação do termo “reserva”. Um desses casos é João Tavares de Pina, que nas suas Terras de Tavares continua a sua cruzada em prol da tradição e identidade dos seus vinhos e dos do Dão. Se hoje em dia há um produtor de culto em Portugal, ele é sem dúvida João Tavares de Pina.

Este Reserva 2003 está numa fase muito feliz da sua vida e nem o tórrido ano que lhe deu origem o está a afectar. Foi elaborado com uvas das castas Jaen e Touriga Nacional e teve estágio em madeira. No nariz apresenta frutos secos, pinheiro, charuto, couro, terra, revelando um aroma complexo e afirmativo. Bom volume de boca, macio e elegante, boa acidez a dar alma e frescura a um tinto de grande carácter.  Acompanhou superiormente umas codornizes estufadas no tacho e custou-me menos de 15€ na Garrafeira Wines 9297. Foi comprar e abrir à mesa, a guarda já estava feita. Outro luxo (16,5+).

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Passemos aos brancos.

A comemorar 180 anos de existência (não é gralha), a José Maria da Fonseca continua a trilhar o seu caminho de sucesso com um portefólio rico e multifacetado, onde qualquer consumidor vai encontrar vinhos da sua preferência por entre uma oferta tão diversificada.
O vinho de hoje chega-nos da Península de Setúbal, mais propriamente de Azeitão e da Quinta de Camarate, propriedade da José Maria da Fonseca desde 1914. Já falei do doce, agora é a vez do seco.

À semelhança da colheita anterior, este Quinta de Camarate Branco Seco 2013 é composto por partes iguais de Alvarinho e Verdelho. Mostra-se apelativo no nariz, com um frutado delicado e elegante, com finos aromas a fruta branca e tropical. Boa secura na boca, equilibrado, com excelente acidez e um final de persistência média. É um vinho para apontar à mesa, onde se perdeu de amores por um Bacalhau à Gomes de Sá. Ele e eu.

Esta garrafa chegou-me à mão através do produtor mas é um vinho muito fácil de encontrar na grande distribuição por menos de 7€ (15,5+).

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Para terminar, que esta refeição já vai longa, foi você que pediu um Porto Ferreira?

Chegado recentemente ao mercado, este Vinho do Porto Branco vem juntar-se ao Porto Tawny Reserve já existente, num lançamento que foi também aproveitado para a renovação da imagem da gama. O momento é também marcado por uma homenagem a Dona Antónia Adelaide Ferreira que em meados do século XIX já produzia Porto Branco no Douro Superior, segundo rezam registos da época. Na altura estas uvas eram muito utilizadas nos lotes do Porto Tinto mas hoje o objectivo da Sogrape, empresa detentora da marca, é bem diferente.

Com enologia de Luis Sottomayor, a partir de um lote de várias castas tradicionais do Douro, este Dona Antónia Porto Branco Reserva foi vinificado segundo os métodos tradicionais do Vinho do Porto. Depois seguiu para as caves da empresa em Vila Nova de Gaia onde fez o envelhecimento em barricas e se procedeu às habituais trasfegas (processo de passar o vinho de uma barrica para outra com o objectivo de eliminar o depósito criado), antes de se fazer o lote final, que neste caso incluiu vinhos com idades entre 4 e 9 anos com o objectivo de se conseguir um vinho final que ronde os 7 anos.

O resultado é um vinho muito fresco de aromas, com notas de amêndoas e casca de laranja. Tem uma doçura comedida, muito bem integrada numa boa estrutura e acidez. Resultou muito bem em Porto Tónico e como aperitivo a solo, mas surpreendeu a acompanhar uma tapa de salmão fumado com creme fraiche. As combinações com sobremesas pouco doces também deverão ser possíveis.

Este não é um Porto que vá melhorar com o estágio em garrafa mas se não o abrirem logo deve ser conservado com a garrafa em pé. Quando o abrirem também não têm de o beber todo, uma vez que se aguenta durante várias semanas sem perder qualidades. Esta garrafa chegou-me à mão através do produtor mas o vinho custa cerca de 10€ e pode ser encontrado em garrafeiras e algumas grandes superfícies (16).

 

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