Vinhos da Semana XI

Regressam os Vinhos da Semana, desta vez com sete referências e uma evidência. Apesar de estarmos no pico do Inverno continuo a consumir mais brancos que tintos.

E vêm com uma novidade. Desde que bebidos com a tranquilidade necessária, os vinhos passarão a ser classificados e sempre que possível mencionado o preço e o local onde podem ser encontrados.

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E começo com dois brancos extraordinários da região dos Vinhos Verdes, cada um ao seu estilo, mas ambos a agradarem-me imenso. O primeiro um 100% Loureiro nascido da filosofia biodinâmica na Quinta Casal do Paço em Ponte de Lima. O mais leve dos Aphros tem apenas 10º de teor alcoolico e é um vinho que ficou ainda melhor depois destes meses em garrafa (desde a última prova). A fruta madura é superiormente balanceada pela mineralidade e a entrada de boca, doce, está igualmente melhor integrada na acidez, ganhando todo o vinho em equilíbrio. Está uma maravilha. Dá vontade de beber até cair para o lado. (16,5 pontos. Custou-me pouco mais de 5€ mas já não me lembro muito bem onde, lamento).

O segundo é um vinho pouco conhecido que a Casa de Cello produziu na sua propriedade junto a Amarante, na Quinta de Sanjoanne. Impressiona acima de tudo pela sua longevidade, principalmente se tivermos em conta que a marca Leiras Mancas foi pensada como uma referência de entrada de gama, acessível e barata, um vinho para o dia a dia. E ele é tudo isso. O que não esperávamos é que tantos anos depois continuasse a dar este prazer à mesa. Depois de 13 anos dentro da garrafa apareceu envergonhado, de aspecto frágil, pouco falador, quase a afastar-se de nós como que a dizer “não me chateiem”. Mas com a temperatura a subir e o oxigénio a fazer o seu trabalho, aos poucos foi-se aproximando e deixou ver aquilo que um branco de Sanjoanne já nos habituou. Leveza, frescura, mineralidade, mantém-se o ADN, mesmo num entrada de gama com tantos anos (15,5 pontos. Custou-me cerca de 3€ na Garrafeira Estado d’Alma).

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Continuamos nos brancos extraordinários, mas agora mudamos de região, vamos até ao Dão e à Serra da Estrela. Primeiro para a Quinta de Saes onde Álvaro Castro produz a sua linha de vinhos saídos desta propriedade. Este é o mais recente Reserva Branco a chegar ao mercado e está com uma pujança de fazer cair o queixo. Encruzado na sua maioria, temperado na conta certa por Bical e Cerceal, onde elegância e complexidade são duas palavras que chegam para classificar este vinho. Mas pode-se acrescentar, para dar mais brilho à prosa, que tem uma deliciosa fruta branca e cítrica, o conjunto é leve e airoso mas ao mesmo tempo tem corpo, com um fundo mineral que nos invade a boca e faz-nos suplicar por um copo mais. Quando vos perguntarem por um grande branco português abaixo de 10€ não hesitem, atirem a matar (16,5 pontos. Foi-me oferecido por um amigo mas anda pelas boas garrafeiras a menos de 10€).

Logo de seguida partimos para o Lugar da Passarela onde Paulo Nunes e a sua equipa continuam a desenhar alguns dos melhores vinhos que o Dão tem visto nascer nestes últimos tempos. E este de que hoje falo entrou mesmo no restrito grupo dos melhores brancos que provei durante o ano de 2015. A filosofia é a mesma do tinto que falei na última publicação dos Vinhos da Semana, vinhos que acontecem, que não são previstos, que surgem em condições inesperadas e irrepetíveis, únicos portanto. Ainda jovem, sério e contido, mas onde transparece de imediato a complexidade das vinhas velhas. Produzido à moda antiga, com fermentação em curtimenta (com as uvas com pele) e depois em barricas usadas, o vinho está elegante mas profundo, delicado mas concentrado, com uma acidez e mineralidade que o colocam num patamar extraordinário. São menos de 2000 garrafas de um vinho que em 2016 permite levantar o véu do que seriam os grandes brancos do Dão no passado. Foi o escolhido para adornar as Caras de Bacalhau da Consoada e difícil vai ser resistir às restantes garrafas que repousam na garrafeira (17,5 pontos. Comprei na loja do produtor a pouco menos de 20€ a garrafa).

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Curiosamente o único tinto desta leva é um vinho de Cooperativa, no caso da Adega de Alcanhões, próximo de Santarém, na região do Tejo. Um vinho simples e directo, que dentro da sua humildade está muito bem para o que se propõe e não vai por aqueles caminhos fáceis e óbvios que podem acabar em zurrapas. As uvas de Castelão, Trincadeira e Aragonez deram lugar a um tinto jovem, macio, de taninos redondos, que é espevitado por suaves notas vegetais. O vinho bebe-se muito bem em qualquer ocasião sem se tornar maçador e mostra boa aptidão para a mesa. Que todos os “Vinhos da Casa” fossem assim. (15 pontos. Esta garrafa foi-me enviada pelo produtor mas o preço em prateleira ronda os 2€).

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Termino com doi fortificados, um Moscatel de Setúbal e um porto LBV. O primeiro é uma novidade da José Maria Fonseca que chegou ao mercado no final de 2015, lançando assim o primeiro Moscatel Roxo jovem do seu portefólio. Depois de ter salvo este tipo de uva da extinção no passado, a JMF possui hoje cerca de 10 hectares desta casta de onde produz um vinho rosé (falei dele aqui), um espumante e agora este fortificado. E pode dizer-se que foi uma estreia em cheio, pois este moscatel tem uma excelente presença, tanto no nariz como na boca. As notas florais, de citrinos maduros e alguns frutos secos, casam na perfeição com uma boca untuosa, doce, mas muito bem equilibrada por uma acidez e complexidade que são apanágio destes vinhos da JMF. Enrolou-se em caricias ternurentas com a Lampreia de Ovos e foi um caso sério para pararem (16,5 pontos. O vinho foi-me enviado para prova pelo produtor mas custa cerca de 10€ e é fácil encontrar-se na grande distribuição).

O segundo é um pujante Porto LBV produzido na Quinta do Noval, que também serviu de ombro amigo para a recente finda quadra festiva. Não há muito mais a acrescentar sobre o terroir da Quinta do Noval no Douro, é um lugar ímpar, onde nascem alguns dos melhores vinhos do mundo e isso só por si diz tudo. Apelidado carinhosamente pelo produtor de Baby Vintage, este Porto tem o mesmo tratamento que o famoso Vintage da Noval, com a diferença de passar 4 a 5 anos em estágio ao invés dos 2 do Vintage. Também as uvas são diferentes, apesar de seleccionadas na quinta. O resultado é um Porto de boa complexidade, com o aroma a inundar-nos de várias sugestões, dos frutos secos às ameixas pretas e a notas florais. Na boca, os taninos presentes são a estrutura de um vinho cheio de vigor, com fruta de grande qualidade e um final longo e elegante (17 pontos. Foi uma das boas relações qualidade-preço do último Adegga Winemarket e por 12€ comprei um excelente Vinho do Porto).

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